Avaliaçao Mensal Especial de Recuperação Paralela para a Turma 3º A Mat.
Disciplina: Historia
Professora: Ana Lucia
Russia
A Revolução Russa de 1917 foi uma série de eventos políticos na Rússia, que, após a eliminação da autocracia russa, e depois do Governo Provisório (Tataks), resultou no estabelecimento do poder soviético sob o controle do partido bolchevique. O resultado desse processo foi a criação da União Soviética, o primeiro país socialista do mundo, que durou até 1991.
A Revolução compreendeu duas fases distintas:
- A Revolução de Fevereiro (março de 1917, pelo calendário ocidental), que derrubou a autocracia do Czar Nicolau II da Rússia, o último Czar a governar, e procurou estabelecer em seu lugar uma república de cunho liberal.
- A Revolução de Outubro (novembro de 1917, pelo calendário ocidental), na qual o Partido Bolchevique, liderado por Lênin, derrubou o governo provisório e impôs o governo socialista soviético.
Pouco antes da Primeira Guerra Mundial, a Rússia tinha a maior população da Europa, com cerca de 171 milhões de habitantes em 1914. Defrontava-se também com o maior problema social do continente: a extrema pobreza da população em geral[2]. Enquanto isso, as ideologias liberais e socialistas penetravam no país, desenvolvendo uma consciência de revolta contra os nobres. Entre 1860 e 1914, o número anual de estudantes universitários cresceu de 5000 para 69000, e o número de jornais diários cresceu de 13 para 856.
A população do Império Russo era formada por povos de diversas etnias, línguas e tradições culturais. Cerca de 80% desta população era rural[3] e 90% não sabia ler e escrever, sendo duramente explorada pelos senhores feudais[4]. Com a industrialização foi-se estabelecendo progressivamente uma classe operária, igualmente explorada, mas com maior capacidade reivindicativa e aspirações de ascensão social. A situação de extrema pobreza e exploração em que vivia a população tornou-se assim um campo fértil para o florescimento de ideias socialistas[3].
A decadência da monarquia czarista
Para entender as causas da Revolução Russa, é fundamental conhecer o desenvolvimento básico das estruturas socioeconômicas na Rússia, durante o governo dos três últimos czares.[Alexandre II (1858 - 1881)
- a abolição da servidão agrária[5], beneficiando cerca de 40 milhões de camponeses que ainda permaneciam submetidos ao mais cruel sistema de exploração de seu trabalho;
- o incentivo ao ensino elementar e a concessão de autonomia acadêmica às universidades;
- a concessão de maior autonomia administrativa aos diferentes governos das províncias.
Apesar das medidas reformistas, o clima de tensão social continuava aumentando entre os setores populares. A terra distribuída aos camponeses era insuficiente, estando fortemente concentrada nas mãos de uma aristocracia latifundiária[3]. A esta faltavam no entanto recursos técnicos e financeiros para uma modernização da agricultura. Esses problemas se traduziam na baixa produtividade agrícola, que provocava freqüentes crises de abastecimentos alimentares, afetando tanto os camponeses como a população urbana.
Em 1881, o czar Alexandre II foi assassinado[3] por um dos grupos de oposição política (os Pervomartovtsky) que lutavam pelo fim da monarquia vigente, responsabilizada pela situação de injustiça social existente.
] Alexandre III (1881 - 1894)
Após o assassinato de Alexandre II, as forças conservadoras russas uniram-se em torno do novo czar, Alexandre III, que retomou o antigo vigor do regime monárquico absolutista.Alexandre III concedeu grandes poderes à polícia política do governo (Okhrana)[6], que exercia severo controle sobre os setores educacionais, imprensa e tribunais, além dos dois importantes partidos políticos (Narodnik e o Partido Operário Social-Democrata Russo), que queriam acabar com a autocracia passaram a atuar na clandestinidade.
Impedidos de protestar contra a exploração de que eram vítimas, camponeses e trabalhadores urbanos continuaram sob a opressão da aristocracia agrária e dos empresários industriais. Estes, associando-se a capitais franceses[6], impulsionavam o processo de industrialização do país. Apesar da repressão política comandada pela Okhrana, as idéias socialistas eram introduzidas no país por intelectuais preocupados em organizar a classe trabalhadora[6].
Alexandre III faleceu em 1894.
Nicolau II (1868 - 1918)
Nicolau II, o sucessor de Alexandre III, procurou facilitar a entrada de capitais estrangeiros para promover a industrialização do país, principalmente da França, da Alemanha, da Inglaterra e da Bélgica. Esse processo de industrialização ocorreu posteriormente à da maioria dos países da Europa Ocidental[5]. O desenvolvimento capitalista russo foi ativado por medidas como o início da exportação do petróleo, a implantação de estradas de ferro e da indústria siderúrgica.Os investimentos industriais foram concentrados em centros urbanos populosos, como Moscovo, São Petersburgo, Odessa e Kiev. Nessas cidades, formou-se um operariado de aproximadamente 3 milhões de pessoas, que recebiam salários miseráveis e eram submetidas a jornadas de
O Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR)
Stálin, Lênin e Mikhail Kalinin em 1919.
Com o desenvolvimento da industrialização e o maior relacionamento com a Europa Ocidental, a Rússia recebeu do exterior novas correntes políticas que chocavam com o antiquado absolutismo do governo russo. Entre elas destacou-se a corrente inspirada no marxismo, que deu origem ao Partido Operário Social-Democrata Russo.O POSDR foi violentamente combatido pela Okhrana. Embora tenha sido desarticulado dentro da Rússia em 1898, voltou a organizar-se no exterior, tendo como líderes principais Gueorgui Plekhanov, Vladimir Ilyich Ulyanov (conhecido como Lênin)[5] e Lev Bronstein (conhecido como Trotski).
A divisão do Partido: Mencheviques e Bolcheviques
Em 1903, divergências quanto à forma de ação levaram os membros do partido POSDR a se dividir em dois grupos básicos[7]:- os mencheviques: liderados por Martov[3], defendiam que os trabalhadores podiam conquistar o poder participando normalmente das atividades políticas. Acreditavam, ainda, que era preciso esperar o pleno desenvolvimento capitalista da Rússia e o desabrochar das suas contradições, para se dar início efetivo à ação revolucionária. Como esses membros tiveram menos votos em relação ao outro grupo, ficaram conhecidos como mencheviques, que significa minoria.
- os bolcheviques: liderados por Lenin, defendiam que os trabalhadores somente chegariam ao poder pela luta revolucionária. Pregavam a formação de uma ditadura do proletariado[5], na qual também estivesse representada a classe camponesa. Como esse grupo obteve mais adeptos, ficou conhecido como bolchevique, que significa maioria. Trotsky, que inicialmente não se filiou a nenhuma das facções, aderiu aos bolcheviques mais tarde, em 1917.
A Revolta de 1905: o ensaio para a revolução
Em 1904, a Rússia, que desejava expandir-se para o oriente, entrou em guerra contra o Japão devido à posse da Manchúria, mas foi derrotada[8]. A situação socioeconômica do país agravou-se[2] e o regime político do czar Nicolau II foi abalado por uma série de revoltas, em 1905, envolvendo operários, camponeses, marinheiros (como a revolta no navio couraçado Potemkin[9]) e soldados do exército. Greves e protestos contra o regime absolutista do czar explodiram em diversas regiões da Rússia.Diante do crescente clima de revolta, o czar Nicolau II prometeu realizar, pelo Manifesto de Outubro, grandes reformas no país[8]: estabeleceria um governo constitucional, dando fim ao absolutismo, e convocaria eleições gerais para o parlamento (a Duma), que elaboraria uma constituição para a Rússia[8]. Os partidos de orientação liberal burguesa (como o Partido Constitucional Democrata ou Partido dos Cadetes) deram-se por satisfeitos com as promessas do czar, deixando os operários isolados.
Terminada a guerra contra o Japão, o governo russo mobilizou as suas tropas especiais (cossacos) para reprimir os principais focos de revolta dos trabalhadores. Diversos líderes revolucionários foram presos, desmantelando-se o Soviete de São Petersburgo. Assumindo o comando da situação, Nicolau II deixou de lado as promessas liberais que tinha feito no Manifesto de Outubro. Apenas a Duma continuou funcionando, mas com poderes limitados e sob intimidação policial das forças do governo.
A Revolução Russa de 1905, mais conhecida como "Domingo Sangrento"[1], tinha sido derrotada por Nicolau II, mas serviu de lição para que os líderes revolucionários avaliassem seus erros e suas fraquezas e aprendessem a superá-los. Foi, segundo Lenin, um ensaio geral para a Revolução Russa de 1917[7].
Revolução de 1917
A queda do Czar e o processo revolucionário
Mesmo abatida pelos reflexos da derrota militar frente ao Japão, a Rússia envolveu-se em um outro grande conflito, a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), em que também sofreu pesadas derrotas nos combates contra os alemães[7]. A longa duração da guerra provocou crise de abastecimento alimentar nas cidades, desencadeando uma série de greves e revoltas populares[5]. Incapaz de conter a onda de insatisfações, o regime czarista mostrava-se intensamente debilitado.Palácio Tauride, sede da Duma e posteriormente do Governo Provisório e do Soviete de Petrogrado.
Numa das greves em Petrogrado (actualmente São Petersburgo, então capital do país), Nicolau II toma a última das suas muitas decisões desastrosas: ordena aos militares que disparem sobre a multidão e contenham a revolta. Partes do exército, sobretudo os soldados, apoiam a revolta. A violência e a confusão nas ruas tornam-se incontroláveis.[10] Segundo o jornalista francês Claude Anet, Em 15 de março de 1917, o conjunto de forças políticas de oposição (liberais burguesas e socialistas) depuseram o czar Nicolau II, dando início à Revolução Russa. O czar foi posteriormente assassinado junto com sua família.
Os efeitos do capitalismo na Rússia
A função política deste trabalho foi a de lançar uma pá-de-cal sobre as teses populistas da inviabilidade da penetração capitalista na Rússia, visto que o capitalismo, e Lenin provava isso com dados minuciosos, já começara a fazer seu trabalho transformador na arcaica sociedade czarista. Nas suas conclusões, Lenin comenta:
“Com respeito à lentidão ou a rapidez do desenvolvimento do capitalismo na Rússia, tudo depende com quê comparamos este desenvolvimento. Se compararmos com a época pré-capitalista deveremos reconhecer que o desenvolvimento da economia nacional é extraordinariamente rápido com o capitalismo. Se, em troca, compararmos a rapidez do desenvolvimento com o que entendemos ser o nível moderno da técnica e da cultura em geral, devemos admitir que o desenvolvimento do capitalismo na Rússia é, com efeito lento. E não poderia ser de outro modo, pois em nenhum país capitalista sobreviveram com tanta abundância instituições do passado, incompatíveis com o capitalismo, e que freiam o seu desenvolvimento e dificultam a situação dos produtores, os quais sofrem do capitalismo e do insuficiente desenvolvimento do capitalismo”.
Depois de realizar um levantamento primoroso das condições materiais e industriais gerais do seu país, era para ele evidente que a proposta de basear a futura sociedade socialista em torno da comuna aldeã e no trabalho artesanal dos kustari era puro passadismo, um ranço do romantismo conservador no seio do movimento revolucionário. O avanço do capitalismo não só era irreversível como apresentava um fenômeno de transcendental importância: formava a classe operária na Rússia. De fato, os dados apresentados por ele demonstram isto categoricamente.
Existiam já no país quase quatro mil fábricas e meio milhão de trabalhadores, com a característica de estarem agregados em torno de Moscou, na província de Vladmir e em S. Petersburgo. O paradoxal nessa posição de Lenin é de que ele passou a entender a presença do capitalismo como algo positivo na história da Rússia. Com a concentração do Capital nos lugares estratégicos do país, como São Petersburgo e Moscou, teria a classe operária (proporcionalmente pequena em relação à imensa população camponesa), segundo ele, um papel político superdimensionado, tornando-se, como os acontecimentos de 1905 e 1917 iriam demonstrar, um poderoso aríete que, num primeiro momento, abalou o czarismo, para em seguida soterrá-lo para sempre.
A fundação do jornal
Findo o degredo siberiano, Lenin resolveu abandonar o pais no verão de 1900, não sem antes reunir-se com seus companheiros. Juntamente com Struve, o economista Tugan-Baranovski, e seus seguidores mais próximos como Mártov, Potresov e Radtchenko, combinaram a participação dos “legais” e “ilegais” no periódico Iskra (“A Centelha”) e na revista teórica Zairá (“Aurora”) a serem lançados a partir do exterior, visto não haver as mínimas condições de imprimi-los na Rússia.
As concepções teóricas da Lenin
Aos trinta anos, ele se tornara um revolucionário completo que já havia passado por todas as graduações que calejavam a vida de um ativista da causa. A importância dele dentro do movimento pode ser calculada graças a um relatório da Okhrana, a polícia política do czarismo: “atualmente” , registrou Zubátov, o chefe de Segurança de Moscou, “não existe na revolução pessoa mais importante que Uliánov” (Walter, Gerard — Lenin, p. 82/3).
Como em tantas outras oportunidades, o instinto do “gendarme”, o faro do agente policial, se antecipava ao de seus superiores na identificação de quem de fato representava perigo para o regime. Foi, pois, no exterior, levando uma vida tranqüila, frequentando bibliotecas em Genebra, em Munique ou em Londres, é que os trabalhos teóricos básicos do bolchevismo nascente foram realizados, sendo publicados os seus primeiros esboços no Iskra, mais tarde desenvolvidos e aperfeiçoados foram impressos em livros.
Eles são três, e surgiram nos proveitosos anos de 1901 a 1905, intitulados “O que fazer?”, “Um passo a diante dois atrás” e “Duas táticas da social-democracia na revolução democrática”, ensaios que formam o tríptico do pensamento leninista
Como seria a revolução na Rússia
A revolução na Rússia, assegurava Lenin, era inevitável, isto não se discutia. O estado czarista não poderia sobreviver por mais tempo às transformações provocadas pela penetração capitalista em boa parte do império. O que importava discutir não era o caráter desta futura revolução (até então todos professavam a crença no rígido cumprimento das etapas históricas fixadas por Marx, segundo o qual o feudalismo fora superado pelo capitalismo, e este inevitavelmente seria batido pelo socialismo) mas quem deveria assumir a sua direção.
Para os socialistas moderados, que posteriormente se alinhariam nas fileiras dos mencheviques, tratava-se de fazer a classe trabalhadora empurrar a débil e acovardada burguesia russa para a revolução (o que significa aceitar a tutela dos partidos liberais)’ Para Lenin, a situação se colocava de uma maneira radicalmente distinta. Cabia ao partido revolucionário liderar a derrubada da autocracia, arrastando não só a burguesia liberal como a massa dos camponeses num mesmo movimento insurrecional, onde a hegemonia caberia aos trabalhadores. Por esta época, não se ousava afirmar – como Stalin defendeu mais tarde por meio da teoria do “socialismo num só país” - ser possível a atrasada e primitiva Rússia “saltar a etapa capitalista”, para lançar-se na construção de uma sociedade socialista. Para Lenin, a conclusão lógica do imenso desafio que se avizinhava é a de que a classe trabalhadora teria que se mostrar apta para liderar a revolução. Para tanto, seria necessário estruturar-se uma sólida teoria revolucionária articulada com rígidos princípios disciplinares. O movimento operário, segundo ele, entregue a si mesmo não consegue ultrapassar a luta sindical e as reivindicações económicas Se rebelado, cai no espontaneísmo, algo facilmente reprimido pelas forças estatais. Recai, pois, sobre a intelectualidade revolucionária, transformada em vanguarda do proletariado - uma tarefa histórica gigantesca que não se podia protelar: a função de levar “de fora” do movimento operário a idéia do socialismo e seu compromisso com a revolução.
A vanguarda revolucionária
O proletariado em armas ameaçando os burgueses (pôster soviético) |
A teoria revolucionária teria seu veículo na chamada “vanguarda do proletariado” que formaria o partido, não de todos os trabalhadores, mas sim dos mais combativos e experimentados na luta de classe. Note-se que essa concepção de “ vanguarda” articulava-se com a época, quando na Europa Ocidental tornou-se moda no meio boêmio e intelectual falar-se das “vanguardas artísticas” , irreverentes e inovadores movimentos culturais que lançavam manifestos um atrás do outro visando sacudir a vida burguesa, denunciar os filisteus e o marasmo aborrecido das exposições acadêmicas de então. Elas, “as vanguardas”, eram as portadoras do futuro, abrindo caminho para que as massas, vindo atrás, pudessem usufruir de uma arte que lhe fosse mais próxima, mais vital e enérgica.
A habilidade de Lenin constituiu-se desde então em formar uma agremiação centralizada, clandestina e disciplinada, dirigida por um comitê central, formada basicamente por revolucionários profissionais, rejeitando os diletantes da revolução, e que atuasse a partir das condições objetivas existentes na Rússia, onde a repressão, sempre atenta, jamais baixava a guarda ou dava trégua. Para capacitar-se na luta subterrânea, o partido deveria contar em seus quadros com gente endurecida pela clandestinidade, pela prisão e pelo desterro. Homens abnegados, desprovidos de veleidades subjetivas, e que transformasse a revolução numa tarefa quotidiana, que vivessem para ela 24 horas por dia.
Caberia a eles estar à frente do movimento de massas que começava a criar força por toda a Rússia e que aos poucos “saia da cidade para ganhar o campo”. Sua função seria orientar e dar forma política a enorme e previsível explosão popular que iria ocorrer no futuro da Rússia, não permitindo que ela se esvaísse num movimento espontâneo e anárquico, que se perdesse num caos pela falta de liderança adequada. A vanguarda deveria ser o “êmbolo do vapor”, como disse Trótski.
Como seria a revolução na Rússia
A revolução na Rússia, assegurava Lenin, era inevitável, isto não se discutia. O estado czarista não poderia sobreviver por mais tempo às transformações provocadas pela penetração capitalista em boa parte do império. O que importava discutir não era o caráter desta futura revolução (até então todos professavam a crença no rígido cumprimento das etapas históricas fixadas por Marx, segundo o qual o feudalismo fora superado pelo capitalismo, e este inevitavelmente seria batido pelo socialismo) mas quem deveria assumir a sua direção.
Para os socialistas moderados, que posteriormente se alinhariam nas fileiras dos mencheviques, tratava-se de fazer a classe trabalhadora empurrar a débil e acovardada burguesia russa para a revolução (o que significa aceitar a tutela dos partidos liberais)’ Para Lenin, a situação se colocava de uma maneira radicalmente distinta. Cabia ao partido revolucionário liderar a derrubada da autocracia, arrastando não só a burguesia liberal como a massa dos camponeses num mesmo movimento insurrecional, onde a hegemonia caberia aos trabalhadores. Por esta época, não se ousava afirmar – como Stalin defendeu mais tarde por meio da teoria do “socialismo num só país” - ser possível a atrasada e primitiva Rússia “saltar a etapa capitalista”, para lançar-se na construção de uma sociedade socialista.
Para Lenin, a conclusão lógica do imenso desafio que se avizinhava é a de que a classe trabalhadora teria que se mostrar apta para liderar a revolução. Para tanto, seria necessário estruturar-se uma sólida teoria revolucionária articulada com rígidos princípios disciplinares. O movimento operário, segundo ele, entregue a si mesmo não consegue ultrapassar a luta sindical e as reivindicações económicas Se rebelado, cai no espontaneísmo, algo facilmente reprimido pelas forças estatais. Recai, pois, sobre a intelectualidade revolucionária, transformada em vanguarda do proletariado - uma tarefa histórica gigantesca que não se podia protelar: a função de levar “de fora” do movimento operário a idéia do socialismo e seu compromisso com a revolução.
Mencheviques e bolcheviques, diferenças
A cabeça de Lenin
No assim chamado IIº Congresso dos sociais-democratas, realizado em Londres em 1903, a posição de Lenin em relação às demais concepções ainda não se havia corporificado em contornos muito nítidos. Não cabe aqui reconstituir toda a ardente polemica que lá se deu em torno da constituição de uma nova equipe redacional do jornal do partido, o Iskra, nem detalhar as divergências de Lenin com o futuro líder menchevique Mártov, sobre o primeiro parágrafo do estatuto partidário (que fixava quem seria considerado membro do partido social-democrata).
Apenas deve-se lembrar que a trajetória revolucionária de Lenin já se encontrava sedimentada quando o célebre congresso se deu, e que a divisão do partido social-democrata russo numa facção bolchevique da maioria) e outra dita menchevique (da minoria), transcendeu espetacularmente a qualquer previsão que um contemporâneo pudesse fazer, visto que decidiu o destino da Rússia de 1917 até 1991. Lenin, produto da tradição revolucionária do populismo russo (terrorista) e da social-democracia européia (reformista), teve que superar dialeticamente ambos os movimentos para estar apto a realizar a Revolução de Outubro de 1917.
Participando de um congresso da IIª Internacional em Stuttgart, na Alemanha, em 1907, a ativista alemã Clara Zetkin teve sua atenção despertada por sua companheira Rosa Luxemburgo para a figura daquele estranho revolucionário. “Fixa-te bem nele! É Lenin. Observa sua cabeça voluntariosa e tenaz. E uma cabeça de aldeão autenticamente russo, com ligeiras linhas asiáticas. Esta cabeça se propôs a derrubar uma muralha. Poderá se arrebentar, mas não cederá nunca.” (Zetkin, Clara — Recuerdos sabre Lênin, p. 24) . É a descrição de um líder determinado, mas que serve também para apontar um fanático
Capitalismo x Socialismo
- As relações de trabalho na Idade Moderna e Contemporânea: a formação do capitalismo
- A Idade Moderna, de1453 a 1789, e a formação do capitalismo comercial
- A Idade Moderna, de
No século XV, o comércio já era a principal atividade econômica da Europa. Os comerciantes, ou a classe burguesa, já tinham acumulado grandes capitais realizando o comércio com a África e a Ásia, através do mar Mediterrâneo. O capital torna-se a principal fonte de riqueza, substituindo a terra, do período feudal. De que forma o capital podia ser acumulado ou obtido?
· por meio da ampliação cada vez maior do comércio;
· por meio da exploração do ouro e da prata.
A expansão do comércio gerou a necessidade de se aumentar a produção, principalmente o artesanal. Os artesãos mais ricos começaram a comprar as oficinas dos artesão mais pobres. Estes transformaram-se, então, em trabalhadores assalariados, e o número de empregados nas oficinas foi aumentando.
A fase de acumulação do capital por meio do lucro obtido com o comércio e, ainda, por meio da exploração do trabalho do homem, seja o assalariado ou o escravo, recebe o nome de capitalismo comercial. Nesta fase do capitalismo, nos séculos XV e XVI, ocorreu a expansão marítimo-comercial. A expansão marítima européia fez ressurgir o colonialismo.
2 - A Idade Contemporânea, de 1789 até os dias atuais: a formação do capitalismo em sua forma moderna – o capitalismo industrial – e as relações de trabalho
Até o século XVIII, o comércio era a principal atividade econômica da Europa, proporcionando grandes lucros à burguesia comercial. Nesta época começaram a surgir novas técnicas de produção de mercadorias. Como exemplo podemos citar a invenção da máquina a vapor, do tear mecânico e, conseqüentemente, dos lucros da burguesia. Surge, deste modo, um novo grupo econômico, muito mais forte que a burguesia comercial. Cabia a burguesia industrial a maior parte dos lucros, enquanto a grande maioria dos homens continuava pobre, Uns continuaram trabalhando a terra arrendada, outros tornaram-se operários assalariados. Essa situação histórica é conhecida como Revolução Industrial.
O primeiro país a realizar a Revolução Industrial foi a Inglaterra, em 1750. Posteriormente, já no século XIX, outros países realizaram a Revolução Industrial: França, Alemanha, Bélgica, Itália, Rússia, Estados Unidos e Japão.
O capitalismo industrial, firmando-se como novo modo de vida, fez com que o trabalho assalariado se tornasse generalizado. O homem passou, assim, a comprar o trabalho de outro homem por meio de salário. A Revolução Industrial tornou mais intensa a competição entre os países industriais, para obter matérias-primas, produzir e vender seus produtos no mundo, fazendo surgir um novo colonialismo no século XIX – o imperialismo. As potências industriais européias invadiram e ocuparam grades áreas dos continentes africano e asiático. Fundaram colônias e exploraram as populações nativas, pagando baixos salários pelo seu trabalho. Além de fornecer matérias-primas para as indústrias européias, as colônias eram também grandes mercados consumidores de produtos industriais. Os países americanos, apesar de independentes de suas metrópoles européias – Portugal, Espanha e Inglaterra –, não escaparam dessa dominação colonial, principalmente da Inglaterra.
Os países latino-americanos, inclusive o Brasil, continuaram como simples vendedores de matérias-primas e aliamentos para as indústrias européias e como compradores dos produtos industriais europeus.
A Revolução Industrial levou a um aumento da produção, dos lucros e, também, da exploração do trabalho humano. O trabalhador foi submetido a longas jornadas de trabalho, 14 horas ou mais, recebendo baixos salários. Não eram somente adultos que se transformavam em operários: crianças de apenas seis anos empregavam-se nas fábricas, executando tarefas por um salário menor que o do adulto. Essa situação levou os trabalhadores a se revoltarem. Inicialmente eram revoltas isoladas, mas, depois, os operários se organizaram em sindicatos, para lutar por seus interesses. E os trabalhadores descobriram uma arma para lutar contra a exploração de sua força de trabalho – a greve.
A atual fase do capitalismo recebe o nome de capitalismo financeiro. A atividade bancária, ou seja, empréstimos de dinheiro a juros, predomina. Todas as outras atividades dependem dos empréstimos bancários. A moeda tornou-se a principal "mercadoria" do sistema.
As características do sistema capitalista
Este sistema caracteriza em linhas gerais:
· pela propriedade privada ou particular dos meios de produção;
· pelo trabalho assalariado;
· pelo predomínio da livre iniciativa sobre a planificação estatal.
A interferência do Estado nos negócios é pequena. Diante do que foi exposto, percebe-se que a sociedade capitalista divide-se em duas classes sociais: a que possui os meios de produção, denominada burguesia;
a que possui apenas a sua força de trabalho, denominada proletariado. Socialismo
A preocupação com as injustiças sociais já existia desde a Antiguidade
a que possui apenas a sua força de trabalho, denominada proletariado. Socialismo
A preocupação com as injustiças sociais já existia desde a Antiguidade
Desde a Antigüidade algumas pessoas, preocupadas com a vida em sociedade, pensavam em modificar a organização social e assim melhorar as relações entre os homens. Na Idade Moderna também houve essa preocupação. Um inglês de nome Thomas More escreveu um livro chamado Utopia, onde mostrou como imaginava a sociedade de uma forma menos injusta.
Entretanto, com as grandes desigualdades sociais criadas pela Revolução Industrial, as idéias de reformar a sociedade ganharam mais força. Foi assim que surgiram pensadores como Saint-Simon, Charles Fourier, Pierre Proudhon, Karl Marx, Friedrich Engels e outros. Estes pensadores ficaram conhecidos como socialistas.
Essas idéias socialistas espalharam-se pela Europa e depois por todo mundo; e não ficaram somente na teoria. é o caso da Revolução Socialista de 1917, na Rússia, onde a população colocou em prática as idéias socialistas.
As características do socialismo e a sua propagação pelo mundo
Até 1917 a Rússia era um país feudal e capitalista. O povo não participava da vida política e vivia em condições miseráveis. Esta situação fez com que a população, apoiada nas idéias socialistas, principalmente nas de Marx, derrubasse o governo do czar Nicolau II e organizasse uma nova sociedade oposta à capitalista – a socialista. A Rússia foi o primeiro país a se tornar socialista e, posteriormente, passou a se chamar União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Em linhas gerais, podemos caracterizar o socialismo como um sistema onde:
· não existe propriedade privada ou particular dos meios de produção;
· a economia é controlada pelo Estado com o objetivo de promover uma distribuição justa da riqueza entre todas as pessoas da sociedade;
· o trabalho é pago segundo a quantidade e qualidade do mesmo.
Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), outros países se tornaram socialistas, como, por exemplo. A Iugoslávia, a Polônia, a China, o Vietnã, a Coréia do Norte e Cuba. Entretanto, este novo sistema colocado em prática nesses países, principalmente na União Soviética, apresenta vários problemas:
· falta de participação do povo nas decisões governamentais;
· falta de liberdade de pensamento e expressão;
· formação de um grupo político altamente privilegiado.
A teoria econômica elaborada por Karl Marx, Friedrich Engels e outros pensadores foi interpretada de várias formas, dando origem a diferenças entre os socialismos implantados.
3 - A competição pela liderança do mundo: EUA e URSS – capitalismo versus socialismo
a - A manutenção e a expansão de áreas de influência capitalista e socialista pelos Estados Unidos e União Soviética – capitalismo versus socialismo
a - A manutenção e a expansão de áreas de influência capitalista e socialista pelos Estados Unidos e União Soviética – capitalismo versus socialismo
Terminada a Segunda Guerra Mundial, em 1945, os Estados Unidos consolidaram sua oposição de superpotência capitalista, e a União Soviética, que tinha implantado o socialismo em 1917, surgia como nação forte e respeitada por todas as demais. De um lado, os Estados Unidos procuravam manter sua liderança sobre vastas áreas do mundo; de outro, a União Soviética auxilia na expansão do socialismo. Terminada a guerra, muitos países do leste europeu alteraram a sua organização econômica, política e social de base capitalista e se tornaram socialistas:
· a Iugoslávia tornou-se socialista em 1945;
· a Albânia e a Bulgária, em 1946;
· a Polônia e a Romênia, em 1947;
· a Checoslováquia, em 1948;
· a Hungria, em 1949;
· a República Democrática Alemã Oriental, em 1949
Também na ásia, alguns países optaram pelo socialismo:
· o Vietnã do Norte, em 1945;
· a Coréia do Norte, em 1948;
· a China, em 1949;
· o Tibet, em 1950, como província da China e, depois, em 1953, independente.
Outros países optaram pelo socialismo nos anos 60, 70 e 80. No pós-guerra intensificaram-se as disputas entre Estado Unidos e União Soviética pela liderança do mundo. Cada uma das superpotências procurou consolidar sua liderança sobre outros países e ampliar sua área de influência.
A Europa ocidental, por exemplo, estava arrasada em virtude da guerra, pois servira como campo de batalha. Muitas de suas cidades, indústrias e meios de transporte estavam destruídos, e grande parte da sua população encontrava-se desempregada. Diante disso, os Estados Unidos, com receio do avanço do socialismo sobre os países da Europa ocidental e temendo perdê-los de sua área de influência, elaboraram um plano de ajuda econômica para que esses países pudessem recuperar sua economia. Este plano foi aprovado em 1948 e recebeu o nome de Plano Marshall, em homenagem ao Secretário de Estado norte-americano, general Marshall.
Em que consistia o Plano Marshall?
· Permitia aos países da Europa Ocidental importarem produtos norte-americanos a preços baixos;
· Abria créditos para os países europeus comprarem equipamentos pesados dos Estados Unidos;
· Fornecia empréstimos.
Os Estados Unidos explicaram que ofereciam este plano porque seria impossível a estabilidade política e a paz enquanto a Europa não tivesse a sua economia recuperada. Entretanto, a ajuda economia dos EUA, por meio do Plano Marshall, tinha pelo menos dois objetivos: manter o sistema capitalista nos países da Europa ocidental e assegurar essa área de influência, impedindo, assim, a penetração do socialismo; garantir o mercado consumidor para seus produtos e investimentos.
Os próprios industriais e comerciantes norte-americanos apoiaram o Plano Marshall, pois eles mesmos afirmavam: "Não se pode realizar negócios num mundo de pobres". Assim, eles tinham interesses na recuperação econômica dos países europeus arrasados pela guerra. Os países europeus que mais receberam ajuda dos Estados Unidos por meio do Plano Marshall foram: Reino Unido, França, Alemanha e Itália. No Japão, os Estados Unidos também intervieram, militar e economicamente, a partir de 1945. Após o lançamento das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, o Japão rendeu-se às tropas norte-americanas. Após a rendição japonesa, os EUA continuaram ocupando o Japão e aplicaram vultosas somas de dinheiro para recuperar a economia japonesa e, assim, assegurar sua presença nessa porção do globo.
b - A Guerra Fria, a OTAN e o Pacto de Varsóvia – o confronto entre as superpotências
A disputa pela hegemonia internacional entre os Estados Unidos e a União Soviética, logo após a Segunda Guerra Mundial, gerou a Guerra Fria.
A Guerra Fria deve ser entendida como uma disputa entre duas superpotências. Contudo, foi uma disputa não declarada. Cada uma das nações procurava ampliar suas áreas de influência sobre o mundo, Foi também uma disputa ideológica, isto é, em que se defrontavam os dois tipos de organização econômica, política e social: o capitalismo e o socialismo.
A grande disputa teve início a partir de uma declaração de Truman, presidente dos Estados Unidos, em 1947: O presidente declarou que iria fornecer ajuda militar ao governo grego na luta contra as guerrilhas socialistas e que iria, desse modo, procurar conter o avanço da influência socialista.
Estabeleceu-se, a partir desse momento, um clima de competição, de guerra fria, entre as duas superpotências. Estas que rivalizaram-se em poder militar e econômico, procurando ultrapassar um ao outro.
Os Estados Unidos combatiam o avanço do socialismo. A União Soviética procurava dificultar a expansão americana na formação de áreas de influências, além de difundir o socialismo. A União Soviética, em 1949, já possuía a bomba atômica.
Posteriormente, as superpotências passaram a dispor da bomba de hidrogênio. Sabiam que numa guerra nuclear não haveria vencidos nem vencedores. Essa realidade criou um novo equilíbrio, o equilíbrio de terror.
Em 1956 os Estados Unidos reconheceram as áreas de influência da União Soviética, fato que marcou o declínio da Guerra Fria. Contudo, não terminaram as disputas entre as duas superpotências.
Foi nesse ambiente tenso que ocorreu a Guerra da Coréia (1950-1953) e a Revolução Chinesa (1949). Mas foi também neste período que surgiram tratados militares e econômicos entre os blocos capitalista e socialista. Esses tratados, principalmente os militares, tinham como objetivo fortalecer as ameaças que cada um dos blocos representava para o outro.
Os Estados Unidos, os países capitalistas da Europa e o Canadá formaram a OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte, em 1949, na cidade de Washington, Estados Unidos: Seu objetivo pode ser resumido da seguinte maneira: defesa coletiva das liberdades democráticas por meio de uma estreita colaboração política e econômica entre os países-membros. A OTAN propõe a defesa e o auxílio mútuos, em caso de ataque a um dos seus países membros.
Assim, os diversos países integrantes formaram uma força militar. Para tanto, forneceram tropas militares e armamentos sob a chefia de um comando unificado, com sede na Bélgica.
A OTAN é uma organização que possui armamentos sofisticados, incluindo armas atômicas e mísseis.
Enquanto os países do bloco capitalista fundaram a OTAN, os países do bloco socialista, liderados pela União Soviética, organizaram o Pacto de Varsóvia.
O Pacto de Varsóvia – Tratado de Assistência Mútua da Europa Ocidental – foi firmado em 1955, em pleno ambiente da Guerra Fria. Assinado pelos países socialistas da Europa oriental, seus objetivos são semelhante aos da OTAN: ajuda militar em caso de agressões aramadas na Europa; consultas sobre problemas de segurança e colaboração política. Vê-se, então, que o Pacto de Varsóvia é uma aliança militar. Compõe-se de tropas dos países-membros e tem sede em Moscou.
Tanto a OTAN quanto o Pacto de Varsóvia constituem, portanto, alianças militares que se opõem. São resultado da disputa entre as duas superpotências e seus aliados pela preservação de seus interesses no mundo. O mundo pós-guerra formou um sistema de dependência no qual as duas superpotências tornaram-se os países centrais.
Características de países subdesenvolvidos e desenvolvidos
Países subdesenvolvidos
· alta taxa de analfabetismo e deficiente nível de instrução
· baixa renda per capita
· baixo consumo de energia mecânica
· predominância da população economicamente ativa no setor primário (agricultura)
· baixo nível alimentar (existência da fome)
· dependência econômica
· elevadas taxas de natalidade
· grande crescimento populacional
· elevada taxa de mortalidade infantil
· baixo nível de industrialização
· emprego de técnicas atrasadas
Países desenvolvidos
· baixa taxa de analfabetismo
· elevada renda per capita
· elevado consumo de energia mecânica
· predominância da população economicamente ativa no setor secundário (indústria) e no terciário (serviços)
· elevado nível alimentar
· dominação econômica
· baixas taxas de mortalidade infantil
· predomínio de produtos industrializados nas exportações
· elevado nível de industrialização
· controle da ciência e da tecnologia
· elevada esperança de vida
Fonte:
sobre URSS (capitalismo x socialismo x comunismo)
Quando Marx escreveu O Capital afirmou que partia do ponto de vista do proletariado. Este, segundo a teoria marxista, é o sujeito histórico que abole não só a sociedade burguesa mas a sociedade de classes em geral. O mais desenvolvido modo de produção classista da História - o capitalismo - explora, domina e aliena o proletariado. Este resiste, se levanta e coloca em xeque o capitalismo. Por isso, é o seu ponto de vista que pode revelar as contradições da sociedade burguesa e realizar o que Marx chamou "a crítica desapiedada do existente". Hoje, o marxismo foi apropriado por outras classes (burguesia, burocracia, etc.) para expressar um ponto de vista estranho ao do proletariado. Trata-se, então, de nos reapropriarmos do marxismo como "expressão teórica do movimento operário" (Korsch), inclusive na análise da URSS e Leste Europeu.
Existem inúmeras interpretações sobre o caráter da sociedade soviética. Além daquelas que defendem o caráter socialista da sociedade soviética (alguns utilizando adjetivos tais como "Socialismo de Estado", "Socialismo de Acumulação", "Socialismo Burocrático", etc.) existem as que consideram uma "Sociedade de Transição" que deverá caminhar para o socialismo. Aí se enquadra a tese Trotskista do "Estado operário com deformações burocráticas" e a teses ambígua de Rudolf Bahro que qualifica a URSS, de forma indecisa, como um regime "Proto-Socialista".
Há também aquelas que julgam que a URSS não é nem socialista nem capitalista. Trata-se de um modo de produção ou uma sociedade pós-capitalista mas não socialista. Os conceitos são vários: Modo de Produção Tecno-Burocrático, Modo de Produção Corporativista, Modo de Produção Estatal, Economia Estatal Totalitária, Sociedade Militar, etc.
Entretanto, a corrente que conseguiu revelar o verdadeiro caráter da sociedade soviética foi aquela que qualificou como uma nova forma de capitalismo: o Capitalismo de Estado. Já na década de 20 surgem os primeiros teóricos e os grupos que defendem esta tese: Amadeo Bordiga e a esquerda comunista italiana, os comunistas conselhistas e o grupo "verdade operária" na URSS.
Para Bordiga, foi a herança do "asiatismo" da Rússia que impossibilitou a formação do capitalismo em sua forma clássica e que gerou o capitalismo de Estado. Este seria uma formação social transitória e especificamente russa. O Modo de Produção Asiático colocou suas intituições à serviço do desenvolvimento capitalista gerando a estatização dos meios de produção. Esta seria uma etapa transitória e temporária que prepararia a implantação do Capitalismo Privado.
Os Comunistas Conselhistas (onde se destacam Korsch, Pannekoek, Gorter, Wagner, Ruhle e Mattick) afirmaram que o desenvolvimento insuficiente das forças produtivas gerou uma Revolução Jacobina (que também pode ser chamada de "Contra-Revolução Burocrática") e esta caracterizou todas as tarefas econômicas necessárias para a formação do Capitalismo de Estado. O bolchevismo realizou uma Revolução Jacobina (que, em última instância, é uma revolução burguesa) e implantou o capitalismo sob uma nova forma. Pannekoek diz que essa forma de capitalismo "é uma produção organizada onde o Estado é o patrão universal, o senhor do aparelho produtivo. Os trabalhadores são lá tão senhores dos meios de produção como no capitalismo universal. Recebem um salário e são explorados pelo Estado, que é o único capitalista (e de que tamanho!)" (1).
O grupo clandestino "Verdade Operária" parte da análise do desenvolvimento do capitalismo mundial para explicar a formação do Capitalismo Estatal da URSS. Segundo este grupo, a burguesia privada não é capaz de ultrapassar os interesses de cada ramo da produção e por isso se torna necessária a crescente ação do Estado sobre a economia realizada pela tecnocracia. Na URSS, houve a fusão da tecnocracia com os capitalistas comerciais do período da NEP (Nova Política Econômica) dando origem a Burguesia de Estado, sendo o partido bolchevique sua principal instituição. Essa nova burguesia criou seu próprio regime econômico: o Capitalismo de Estado.
Na década de 30, o historiador Arthur Rosemberg defenderia, com algumas diferenças, as teses dos Comunistas Conselhistas. Segundo ele, "em suas partes essenciais, o bolchevismo revelou o objetivo que se colocara. Com a ajuda do proletariado, derrubou o Tzarismo e fez a revolução burguesa. Superou a vergonhosa inferioridade russa, levando o país ao nível dos Modernos Estados Burgueses Europeus. Graças à força da classe operária, conseguiu ainda substituir a economia e a forma de sociedade capitalismo privada por uma moderna organização baseada no Capitalismo de Estado" (2).
Ainda na década de 30, A . Ciliga defenderia a teoria de que a Rússia vivia sob o Capitalismo de Estado. Para ele, Stálin e Trótski: "... queriam fazer passar o Estado pelo proletariado, a ditadura burocrática sobre o proletariado pela ditadura do proletariado, a vitória do Capitalismo de Estado sobre o Capitalismo Privado e sobre o Socialismo por uma vitória deste último... Já tivemos provas suficientes de que o atual sistema da Rússia preservou todas as características essenciais do Capitalismo: produção de mercadorias, salários, mercados para a troca, dinheiro, lucros, redistribuição parcial dos lucros entre os burocratas, sob a forma de altos salários, privilégios, etc." (3).
Depois destes, vários outros pensadores, militantes e grupos defenderam, de forma diferente, a mesma tese. M. Rubel, baseando-se nos escritos de Marx e Engels sobre a Rússia Czarista, coloca o surgimento do Capitalismo de Estado Russo como provocado pelo atraso econômico do país. As relações de produção dominantes na Rússia impulsionaram o Estado soviético a desenvolver o método capitalista da "acumulação primitiva" e consolidar o Capitalismo de Estado. Outro exemplo é C. Castoriadis, quando ainda se auto-intitulava marxista, que defendia a URSS como um capitalismo burocrático. As relações de produção predominantes na URSS seria uma relação de classe que opunha o proletariado à burocracia, classe que dispõe dos meios de produção e com isso efetua a exploração através do trabalho assalariado. Para ele, o capitalismo burocrático e o capitalismo privado viveriam em um constante conflito que resultaria na vitória de um sobre outro.
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